Há coisas que me deixam estupefacta e uma delas é a proibição em muitos países de secar a roupa na corda.
Sendo eu portuguesa e estando habituada a ter corda da roupa nas casas onde vivi, quando ouvi isto pela primeira vez tive muita vontade de rir. Depois percebi que quem defende que ver estendida a roupa interior alheia é ofensivo realmente acredita no que está a dizer. E por isso, para estas pessoas, a solução óbvia, prática e rápida é usar o secador da roupa. Curiosamente, esta é também a forma mais cara e energeticamente menos eficiente de o fazer.
Eu sou fã da tecnologia e adopto com paixão alguns gadgets, máquinas e aparelhos. A título de exemplo, não dispenso a máquina de lavar loiça e não temo ligar aquecimentos quando o tempo arrefece. Mas acho que quando a alternativa é mais barata, eficiente e nem sequer dá especial trabalho, se deve usar a alternativa “antiquada”.
Dou-vos alguns exemplos: no Panamá, vivia num 49.º andar, com ar condicionado central na sala e aparelho individuais nos quartos. A minha política, contudo, era a de abrir duas janelas opostas e deixar ventilar a casa durante algum tempo. Depois, para retirar a humidade do ar, usávamos desumidificadores (os melhores amigos de qualquer peça de roupa naquela latitude) e o ar condicionado da divisão em que estávamos no modo “dry”. Em vez de termos uma casa gelada, arrefecida artificialmente por aparelhos que consomem imensa energia, tínhamos uma casa a 25ºC, usávamos mangas curtas e saias ou calções e andávamos descalços ou de chinelos. Parece-vos bizarro que fale da nossa experiência como se fosse a descoberta da pólvora? Pois conto-vos que para o cinema levávamos manta e meias de lã, porque no centro comercial o ar condicionado estava programado para manter uma temperatura absolutamente gélida.
O outro exemplo da minha preferência pela velha alternativa tem que ver com a temática da secagem de roupa. Nos bairros ricos do Panamá, não pode faltar o secador em cada uma das casas. Lá – e em muitos outros países – secar a roupa na corda é associado com pobreza; como tal, o secador é fundamental nas casas com mais poder aquisitivo.
Pela primeira vez na minha vida, só quando me mudei para o Panamá é que tive acesso a um secador de roupa, pelo que só então pude comparar a performance entre o aparelho e o método do estendal. Na Cidade do Panamá, chove todos os dias entre Março e Dezembro, normalmente ao início da tarde. Apesar da temperatura alta, é a humidade a rondar os 95% que dá a sensação térmica tão abafada. A roupa seca muitíssimo bem ao sol, mas em dias de chuva fica mais difícil e chega, com frequência, a ganhar o desagradável cheiro a mofo.
Por isso, com a prática que fui ganhando, organizei-me para secar turcos e gangas no secador e toda a outra roupa no estendal, dentro de casa, perto do desumidificador – aparelho esse que funcionava praticamente todo o dia, todos os dias, com roupa a secar ou não.
Como resultado, a nossa roupa estragava-se menos, a nossa conta de luz era significativamente mais baixa que as das minhas amigas, e só ouvi falar da electricidade estática na roupa secada mecanicamente quando me falaram no assunto. Nas lojas, via folhinhas de papel para pôr no secador – e eu não entendia para que serviam. A verdade é que às vezes é muito bom ser ignorante.
Hoje, para escrever este texto, decidi investigar um pouco de onde vêm os diferentes usos e tradições no que toca à secagem de roupa. Em vários estados dos Estados Unidos, em várias províncias do Canadá e em alguns países europeus, estender a roupa na corda, no exterior, ainda é proibido. Os argumentos apontados são estéticos: estragam o design dos edifícios e a roupa estendida é ofensiva para os vizinhos; sociais: secar a roupa ao sol significa não ter dinheiro para comprar um secador, logo, um estatuto social mais baixo; e, finalmente, económicos: um estatuto social inferior desvaloriza as propriedades aos olhos de potenciais compradores.
Contudo, tem havido uma crescente onda de pedidos para que estas restrições sejam levantadas, já que o secador gasta tanta energia quanto um frigorífico, apesar de só ser usado intermitentemente; os produtos usados para suavizar a roupa durante a secagem são tóxicos; e porque a secagem mecânica provoca um desgaste nas fibras, obrigando a comprar roupa nova com mais frequência.
O argumento mais importante, contudo, é que secar ao sol é grátis, não tem impacto no meio ambiente e a poupança na factura energética é imensa e bem visível. Se o sol e o vento fazem tão bem este trabalho, para quê complicar? Prefiro dedicar esta porção de energia a aquecer a casa, no Inverno, porque esse é um benefício da tecnologia que não me pode ser dado de outra forma.
E vocês? Como encaram esta discussão?
(Texto: Ana Isabel Ramos/ Imagem: Raquel Félix/ Portugalize.Me)