Ao aniversário de Tiago Pereira (o velhinha, para os que lhe conhecem o trabalho para além do nome), juntaram-se gargantas, pés a bater terra e cimento, canas rachadas, adufeiras, violas amarantinas, amigos, familiares e curiosos desconhecidos. Aos poucos, o coreto do Jardim da Estrela encheu-se de sons polifónicos e de improvisos.
Ao redor de um piquenique pacato, ao redor de Tiago e de todos aqueles que lhe dão as mãos, os braços e abraços, para que possa ir ao encontro das suas velinhas, fez-se música e cantou-se a alma de um povo.
Para Tiago, o trabalho de recolha é urgente. Anda sempre à pressa para resgatar do silêncio, do esquecimento e da extinção o nosso nervo músical. Diariamente, aventura-se de peito aberto na estrada, dando corpo e alma ao manifesto em prol dos cantares portugueses. Não pede nada em troca, e dá tudo o que encontra. Grava, grava, grava e grava. Horas a fio porque não se pode perder nada, não se deve perder nada. E vai-nos alertando para o risco da perda de uma parte fundamental do nosso património. A música que, durante muitos anos, uniu e une comunidades, aldeias, vilas e até cidades.
Cantares, dizeres, danças, reformulações. Que cada um se apodere da música como pode e deseja mas, que se apodere como uma espécie de cola que nos une e eleva, porque a música portuguesa quando se mostra é gostada, apreciada e sentida.
Parabéns Tiago, parabéns música portuguesa.
Texto e fotografias: Raquel Félix – Portugalize-me
Grandioso Piquenique Musical, Mpagdp, 46 anos a gravar velhinhas – 2 Setembro 2018